Há uns tempos estive presente num workshop de escrita creativa, em que o professor era igualmente escritor – Pedro Chagas de Freitas.
No passado mês de Novembro, Pedro Chagas de Freitas fez um lançamento inédito: dez livros de uma vez, em estilos que vão desde crónicas a poesia, passando por narrativa. Estive presente no lançamento, que teve lugar no bar Fiés ao Bar do Rio, e de lá trouxe um dos 10 livros: “Só os feios é que são fiéis”.
Trata-se de um livro de crónicas, que segundo o autor não tem bolinha (ao contrário de muitos dos outros lançados na mesma noite).
Ainda assim, para quem lê algo do autor pela primeira vez pode parecer bastante forte. Não há uso de meias palavras, calão é usado com frequência. Muitas das crónicas poderão denotar um narcisismo extremo.
Mas a maneira com que as palavras são usadas, como se joga com os múltiplos sentidos, como se coloca de uma maneira pouco convencial opiniões e teorias que até fazem muito sentido , é genial.
Uma das apresentadoras do evento mencionou que o autor não é nada do que escreve, que é um fingidor. Que gosta de chocar. Que tudo o que escreve é provocante, e tenciona provocar reacção. E definitivamente atinge o seu objectivo.
Aconselho vivamente. Pedro Chagas de Freitas é também o seu próprio editor, pelo que podem encontrar os livros online e não numa qualquer livraria convencional.
Deixo uma das minhas passagens favoritas:
“Respira a criança que ri. Olha-a nos olhos, sente-lhe o sonho, a esperança, o futuro. Sente, nela, que vale a pena continuar, que vale a pena tudo o resto para que algo assim te caia nas mãos – para que algo assim te caia nos olhos.
Respira a chuva que cai, o sol que aquece, o vento que empurra. Respira o cheiro da terra húmida, a imponência da árvore erguida, a magia das asas de um pássaro. Respira – para saberes que vale a pena continuar.
Respira o sabor de um beijo, o toque de um afago, o som de um arfar. Respira a mão de fogo de quem te ama, o suor em êxtase de quem te chama. E o abraço de que não passa, e as palavras que te embraçam, e os olhares que te apertam. Respira – para saberes que vale a pena continuar.
Respira ainda quem tens contigo, quem te quer, quem te cuida, quem te acompanha. Respira também quem não tens contigo, quem gostavas de ter contigo e partiu sem nunca deixar de ficar, quem queres e não te quer mas que por existir te faz existir. Respira a tristeza como respiras a felicidade, a saudade como respiras a presença. Respira o que faz parte da tua vida – porque é o que faz parte da tua vida que te faz sentir vivo. Respira - para saberes que vale a pena continuar.”