Principalmente conhecida pelo seu romance, Chocolate, Joanne Harris apresenta-nos a continuação em Sapatos de Rebuçado. Já há alguns anos que leio as obras desta autora, pelo que é impossível deixar de notar o seu estilo característico que apela aos cinco sentidos, com maior enfoque no paladar e no olfacto. Cada descrição faz-nos ficar com água na boca, e tanto Chocolate como Sapatos de Rebuçado são extremamente sugestivos nesse sentido. No entanto, entre os livros de Joanne Harris, Chocolate não é um dos meus livros preferidos, já que opto de longe por A Praia Roubada e por Na Corda Bamba. No entanto, gostei muito mais deste Sapatos de Rebuçado do que havia gostado da primeira parte da sequela.
Em Sapatos de Rebuçado voltamos a encontrar Vianne Rocher e Anouk, mas agora escondidas sob o nome de Yanne e Annie. Mas não só os nomes que mudaram. Vianne desistiu da magia, porque tudo tem um preço. Os inefáveis não a deixariam passar impune. Assim, passaram-se quatro anos. Até que aparece uma nova personagem em jogo, Zozie, que é quase um retrato de quem foi em tempos Vianne. Sob a mão de Zozie, a vida pacata que Vianne tinha numa chocolaterie sofre uma completa reviravolta. Mas o sucesso tem um preço…
Esta história é contada a três vozes: Anouk, Vianne e Zozie, o que torna a narrativa bastante interessante. O leitor fica a saber o que se passa sobre diferentes perspectivas, sente as intenções nefastas de algumas personagens e espera ansiosamente que as outras o percebam também. Gostei particularmente do contraste entre a forma como Anouk e Vianne veêm exactamente a mesma situação.
Em suma, se gostaste de ler Chocolate, acho que vais gostar ainda mais de Sapatos de Rebuçado (até porque este tem um final fechado e feliz :-). Aconselho vivamente.
Excertos:
“O vento faz coisas curiosas às pessoas, fá-las rodopiar, fá-las dançar. (…) Às vezes o vento pode ser sedutor, trazendo consigo ideias extravagantes e sonhos ainda mais extravagantes”.
“Deu-me vontade de rir. Ela faz com que tudo pareça muito directo, como se as nossas vidas não fossem um castelo de cartas, em que todas as decisões e todas as opções são cuidadosamente pesadas contra uma multitude de outras opções e decisões, empilhadas umas em cima das outras num equilíbrio precário que o mais leve sopro faz inclinar e vacilar…”